06/06/2012

Uma xícara de chá verde com uma colherada de tristeza, por favor.

Um amigo comentou comigo que, ao chegar ao fim do seu chá, sentia gosto de sabão. Também disse que isso era um pouco ruim e que o deixava triste. Perguntei de qual chá falávamos. Ele respondeu, prontamente, que tratava-se de chá verde. Pensei, por alguns segundos, e concluí que podia ser uma xícara ou caneca mal lavada. Compartilhei com ele minha opinião. Mas, para a minha surpresa, eis que ele me diz: "Pior que não é. É sempre o último gole".

"É sempre o último gole".

Essas palavras despertaram em mim um sentimento. O mesmo que sinto aos domingos: sei que é o último dia do fim de semana, mas mesmo assim eu procuro fazer dele o melhor dia possível, porque eu amo finais de semana, porque eu amo me sentir livre. E, mesmo sendo domingo, é assim que me sinto. O mesmo ocorre com as viagens. O gosto amargo da despedida, não me faz desistir de viajar. Amo conhecer lugares novos, pessoas novas, mesmo sabendo que, em algum momento, terei que dizer adeus.

Engraçado o modo como agimos. Esse meu amigo sabe que vai sentir-se triste quando estiver terminando seu chá, mesmo assim, continua bebendo. O sabor desse e os prazeres que ele proporciona são superiores à tristeza que sente. O gosto ruim que sente é a mais pura nostalgia.

04/06/2012

A garota...

         A dor que sentia já não era agonizante. Aprendera a viver com ela. Os dias passavam, algo a incomodava. Mas não era dor, nem raiva. Apenas, distanciamento. Cada vez, achava-se mais longe. Queria retornar para aquele dia em que tudo era tão caloroso e aconchegante. Sentia falta dos sorrisos e dos gestos, dos olhares e palavras. Queria e precisava de amor e nada que dissessem a ela iria mudar isso.
         Durante 80 anos, buscou por ele. A esperança já havia se esgotado, abandonou-a. Sem felicidade, sem raiva, sem companheirismo. A única que não a largava era a solidão, mas, apesar dessa ser sua fiel companheira, ela já estava a ponto de procurar a morte.
         Foi então que encontrou o amor. Ele estava cansado, todos o queriam. A felicidade não o largava. A garota estranhou: “Como alguém pode cansar de ser feliz?”. Ele respondeu que não era da felicidade que estava cansado, mas de apaixonar-se sempre, a todo instante. Tão inconstante. Ela o apresentou a solidão.
         Por incrível que pareça, continuou sozinha. Quem encontrou o amor foi sua companheira. A garota entendeu que ela era a persistência, a teimosia e a coragem em uma só. Era três. Era o amor a seu próprio modo. Reparou que 80 anos haviam passado para que ela entendesse que o amor está em tudo. Que amar vem de dentro. Se você está disposto a amar, o amor te encontra nos lugares menos esperados.