23/08/2011

Nós, brasileiros, nos gabamos tanto da palavra "saudade". Sinceramente, não sei por que. Muitos até desfazem das outras línguas: "Vocês tem que dizer 'sinto sua falta', enquanto nós temos uma palavra só para isso: saudade". Estou julgando, mas confesso já ter feito isso. No entanto, hoje, falando com minha melhor amiga, percebi o quanto é difícil dizer que sinto a falta dela. É fácil dizer que estou com saudades, talvez porque a palavra tenha perdido um pouco da significância devido ao uso desenfreado que fazemos dela. Tenho saudades disto, saudades daquilo. Você tem saudades, mas você sente (mesmo) falta? Saudades, hoje, tem mais um sentido conotativo do que denotativo, relaciono-a com nostalgia. Posso sentir saudades de uma pessoa, sem sentir falta. Mas trata-se da minha opinião. Percebi, hoje, que não consigo dizer que sinto falta de alguém, justamente pelo peso dessas palavras. É como se a pessoa não estivesse mais lá, literalmente. Infelizmente, por medo, acabei por dizer "Saudades!", soou mais casual, mas não era o que eu queria mesmo dizer.

14/08/2011

Ninguém entende a essência de uma música até passar por uma situação em que a letra descreva exatamente aquilo que se está sentindo.

13/08/2011

Algumas pessoas vão indo, trilhando seu caminho, um caminho que se distancia do teu. Um dia, tu acorda e já não as encontra mais. O que aconteceu? Vocês aconteceram, cresceram, mudaram e não tinham mais o que aprender um com o outro, já se conheciam o suficiente, viveram tudo que tinham pra viver juntos. Pode ser que tu sintas uma sensação de desconforto nos primeiros tempos, mas depois passa e resta só a saudade e uma certa nostalgia dos tempos passados.

12/08/2011

O amor que choveu

Era uma vez um menino que amava demais. Amava tanto, mas tanto, que o amor nem cabia dentro dele. Saía pelos olhos, brilhando, pela boca, cantando, pelas pernas, tremendo, pelas mãos, suando. (Só pelo umbigo é que não saía: o nó ali é tão bem dado que nunca houve um só que tenha soltado).
O menino sabia que o único jeito de resolver a questão era dando o amor à menina que amava. Mas como saber o que ela achava dele? Na classe, tinha mais quinze meninos. Na escola, trezentos. No mundo, vai saber, uns dois bilhões? Como é que ia acontecer de a menina se apaixonar justo por ele, que tinha se apaixonado por ela?
O menino tentou trancar o amor numa mala, mas não tinha como: nem sentando em cima o zíper fechava. Resolveu então congelar, mas era tão quente, o amor, que fundiu o freezer, queimou a tomada, derrubou a energia do prédio, do quarteirão e logo o menino saiu andando pela cidade escura -- só ele brilhando nas ruas, deixando pegadas de Star Fix por onde pisava.
O que é que eu faço? -- perguntou ao prefeito, ao amigo, ao doutor e a um pessoalzinho que passava a vida sentado em frente ao posto de gasolina. Fala pra ela! -- diziam todos, sem pensar duas vezes, mas ele não tinha coragem. E se ela não o amasse? E se não aceitasse todo o amor que ele tinha pra dar? Ele ia murchar que nem uva passa, explodir como bexiga e chorar até 31 de dezembro de 2978.
Tomou então a decisão: iria atirar seu amor ao mar. Um polvo que se agarrasse a ele -- se tem oito braços para os abraços, por que não quatro corações, para as suas paixões? Ele é que não dava conta, era só um menino, com apenas duas mãos e o maior sentimento do mundo.
Foi até a beira da praia e, sem pensar duas vezes, jogou. O que o menino não sabia era que seu amor era maior do que o mar. E o amor do menino fez o oceano evaporar. Ele chorou, chorou e chorou, pela morte do mar e de seu grande amor.
Até que sentiu uma gota na ponta do nariz. Depois outra, na orelha e mais outra, no dedão do pé. Era o mar, misturado ao amor do menino, que chovia do Saara à Belém, de Meca à Jerusalém. Choveu tanto que acabou molhando a menina que o menino amava. E assim que a água tocou sua língua, ela saiu correndo para a praia, pois já fazia meses que sentia o mesmo gosto, o gosto de um amor tão grande, mas tão grande, que já nem cabia dentro dela.
Antônio Prata
Publicado na revista Capricho.
A melhor lembrança do mundo não pode ser descrita em palavras. Você não pode fazer dela só mais uma frase usada.

09/08/2011

Algumas pessoas editam as suas fotos, outras não, mas não importa. Todas as fotografias falam de alguma coisa, existem por um motivo. Sempre tem alguma coisa que valha a pena ver, um detalhe, o mais minucioso deles. Observe, olhe atentamente, fixamente, você viu aquele brilho nos olhos dele antes? Aquele sorriso dolorido? Sentiu a força do abraço? O vazio deixado pelas pegadas apagadas pelas ondas? Procure... Se encontrar, me chame, estou curiosa para ver o que você encontrou.