10/10/2011

Era uma vez uma guria. Ela não curtia fazer horrores de coisas que todas as outras pessoas da idade dela gostavam de fazer, mas, nem por isso, ela queria deixar de fazer. Então ela saía, ela tomava uma cerveja ou outra, falava umas merdas e dava risada de tantas outras, mas nada disso fazia ela feliz. Ela queria tomar um chimas na praia, curtindo uma sonzera e esquecer da vida. Não, isso não faz dela uma guria diferente. Todo mundo gosta de curtir uma praiera. O que havia de diferente nela era o olhar. Ela tinha aqueles olhos grandes e tristes. Ela não gostava de falar, prefiria ficar na dela, ouvir o que os outros tinham a dizer. A guria gostava mesmo de sonhar. Passava o dia sonhando, assim não precisava encarar a realidade.
Um dia, estava sentada no banco do parque desenhando, não tinha muito o que fazer, quando um guri perguntou se podia sentar. Ela afirmou com a cabeça, porque estava cansada demais para falar. Tinha sido uma semana difícil. Ele tentou puxar assunto e nada. Tentou mais uma, duas, mil vezes. Ela só olhava enquanto ele tentava inutilmente fazer com que ela falasse. Ele desistiu e foi embora. Ela não ligou, sabia que um dia ele iria. Todos vão.
Semanas depois, ela foi ao parque de novo. Sentou no chão, perto do lago e ficou ouvindo música. Outro guri chegou e perguntou se podia sentar ali com ela. Não respondeu. Tinha certeza que esse ficaria menos tempo que o último. Acertou. Ele tentou umas três vezes puxar assunto, depois foi embora. Ela não se importou, era como se ele nem tivesse estado ali. O dia estava tão bonito. Ela deitou na grama, cochilou e depois foi para casa, fazer qualquer coisa.
Passou um ano até que retornasse àquele parque novamente. Como sempre, cansada da semana e de caminhar, sentou-se. Dessa vez, escolheu um lugar meio escondido, não queria que ninguém a incomodasse. Ficou sozinha por umas duas horas, até um guri aparecer. Ele não perguntou nada, nem tentou puxar assunto, só se sentou e ficou ali. Ele olhou pra ela algumas vezes, mas não fez nada, só pôs os fones de ouvido. Ela ficou meio intrigada, incomodada, talvez, pelo fato dele não ter tentado conversar com ela. Então ela se levantou, foi para perto dele e se sentou.
Eles não falaram nada por mais algum tempo, mas ela estava curiosa demais e perguntou como ele achou aquele lugar. Ele disse que ia quase sempre ali e que nunca havia ninguém além dele. Voltaram a ficar em silêncio. Ela estava avaliando o que ele tinha acabado de dizer, talvez ele não a quisesse ali. Ela perguntou se estava incomodando, ele disse que não, que na verdade era bom dividir o lugar, desde que ela não trouxesse mais ninguém. Ela concordou. Silêncio. Mais alguns minutos se passaram até que começassem a conversar pra valer.
Ela percebeu, então, que não queria estar sozinha, nunca quis, que o que queria era estar com a pessoa certa. Era isso que importava. Não se incomodou por ele estar lá, porque ela realmente não se importava de ter que dividir o espaço com ele. Na verdade, queria divir tudo com ele. Ele também não se importou de terem descoberto o lugar dele, porque estava feliz. Finalmente a conheceu. A guria por quem tanto "esperou". Sabia que a conheceria um dia ou outro, os dois sabiam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Críticas sempre são bem vindas.